quinta-feira, 22 de maio de 2008

A inquisição da Sexta-feira

Acho que, ultimamente, tenho tido mais folgas que trabalho propriamente dito. Fico me perguntando o porque de tanto feriado, mas já que não tenho com quem reclamar, é melhor ficar quieto.

Desde pequeno aprendi que o capitalismo funciona mais ou menos assim:

- Quanto mais trabalho, mais dinheiro se ganha.

Depois que cresci vi que, na prática, isso não funciona muito bem. Afinal, nunca vi deputado pobre e nem camelô rico. Aliás, nem camelô, nem gari, nem professor do estado, nem caminhoneiro...

Umas das grandes idéias do governo é o "ponto facultativo", só trabalha quem quer! Se fosse seguida a lógica capitalista, se ganha-se por produção e nesse dia só trabalha quem quer, quem trabalhar produzirá mais e ganhará mais, correto? Bem... quem não trabalhou não produziu, mas ganhará o mesmo. Por isso ninguém trabalha! Ou melhor, não trabalha quem já não produz. O ponto facultativo existe na esfera pública, logo, o estado não produz! Se o estado não produz, não ganha dinheiro. Portanto alguém tem de trabalhar para sustentar o estado. Quem trabalha, ganha dinheiro e paga imposto. O imposto é pago para o... é melhor deixar para lá.

Esse fim de semana meu caminhão estará na oficina. Como não vou trabalhar, não vou produzir, então é um pouco menos de imposto que o estado deixará de ganhar, pois eu ganhando menos, pago menos imposto. Entretanto, se eles conservassem melhor as estradas haveria maior escoamento da produção, então teria mais capital circulando e impostos sendo pagos. Eu ganharia mais, pagaria mais imposto, porém teria uma grana sobrando no final do mês para comprar algo para a minha família. Por sinal, independente do que eu comprar, já estará o imposto incluso no produto... Acho que não tem muito jeito...

Cansei... enquanto a CPMF não volta, vou passar meu milésimo primeiro domingo assistindo o Faustão na TV. Pelo menos, por enquanto para isso não preciso pagar imposto... Mas, por que será que a conta de luz veio mais cara esse mês?

Isso é no que dá ficar em casa vendo enforcarem mais uma sexta-feira...

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Samba de uma nota só

Alguém se lembra daquele jingle de uma campanha política para o governo do estado composto por Roberto Mendes?
- "Só se vê na Bahia, só se vê na Bahia!"
Ou as palavras de Otávio Mangabeira, quando governador da Bahia, sobre a nossa terra?
- "Pense num absurdo. Na Bahia tem precedente."
Ou que tal, novamente nosso saudoso ex-governador, quanto à apatia política, econômica e social, mesmo com uma rica cultura, identificando a existência de um "Enigma baiano"?

Ok! Ok! Talvez eu ainda não tenha vivido o suficiente para trepidar num terremoto (apesar de ser essa a sensação com os buracos nas estradas) ou voar em balões de ar e acabar fazendo companhia a Sawyer, Jack, Lock e Cia ltda. Mas ao estacionar meu caminhão para descarregar uns pacotes vindos do Campo Santo, na porta da Faculdade de Medicina da UFBA (apesar do mau cheiro, ainda torço para que tenha sido apenas terra), me deparei com uma roda de capoeira e um som maravilhoso vindo do berimbau. Caramba! Não sei o que era mais impressionante, se o deslizar dos corpos pelo ar, parecendo contrariar as leis da física, ou aquele som mágico que ecoava de um instrumento que sempre quando encontro um turista, ele parece todo atabalhoado por não conseguir tirar uma nota sequer de um instrumento com uma corda só. Ah, isso realmente só se vê na Bahia, com uma corda só, ainda fazer brilharem os olhos e acariciar os ouvidos de tanta gente! Ao que me faz lembrar, feitos só registrados por Tom Jobim no seu "Samba de uma nota só" e por Nícolo Paganini que, por tamanha habilidade no violino, fora acusado no século XIX de ter um pacto com o demônio só porque conseguia tocar uma sinfonia inteira com apenas uma nota musical (com certeza tem outros, mas não lembro). Aqui na Bahia temos vários anônimos que fazem isso... até um tal de Ganga Zumba, grande mestre e amigo.




Aliás, por alto, ouvi até um comentário que um não sei quemzinho teria dito que baiano é burro. Tudo bem que compor uma música do quilo de "segura o tchan, amarra o tchan" não é uma prova muito boa de destreza mental, mas para quem já produziu gente como Jorge Amado, Dorival Caymmi, Castro Alves, Raul Seixas, Otávio Mangabeira, Glauber Rocha, Calasans Neto, Anísio Teixeira, Ruy Barbosa, Juliano Moreira, Milton Santos e Gregório de Matos (ufa!!!), e hoje é representada por Ubiratan Castro, Caetano Veloso (com muuuuitas ressalvas), João Ubaldo Ribeiro, Mário Cravo, Sérgio Gabrielli, Luis Henrique Tavares, Herbet Conceição, Tavares Neto, Consuelo Novais, João José Reis, Roberto Santos, Yeda Castro, Carlinhos Brown (outras tantas ressalvas...), acho que dá para relevar...

Ah, e por sinal, me disseram que esse tal é doutor. Então, um recadinho para o "doutorzinho": Cuide de doença, que de cultura baiana já deu para perceber que sua capacidade mental beira a ignorância.