quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

De Cantareira a Sobradinho. Quem se importa?

O Sistema Cantareira atingiu, hoje pela manhã, 16,7% de sua capacidade sem levar em consideração a reserva técnica, que foi aquele acréscimo referente ao volume morto. Considerando esse volume, o armazenamento de água em relação ao volume útil, é de 46%. Isso faz com que os problemas que causaram toda aquela comoção por parte da mídia sejam, praticamente, esquecidos. Geraldo Alckmin, que tanto culpou São Pedro pelos problemas de desabastecimento, deve estar feliz com isto.
Dinho (para os íntimos), já deve ter esquecido da Represa Billings que, tendo o investimento necessário para a sua recuperação, poderia representar não somente o desafogamento do Cantareira, mas a possibilidade de se alcançar regiões que ainda passam por problemas de abastecimento, independentemente da época do ano, de São Pedro, do Lula ou dos Stormtroppers. PODERIA! Futuro do pretérito. Afinal, sua preocupação está em bater em estudante e roubar dinheiro da merenda. Mais parece o Nelson de "Os Simpsons" do que governador de São Paulo. Deve ter aprendido com o Mr. "Serra" Burns.
Enquanto isso, Sobradinho, que chegou a ter 1% de volume útil em dezembro, hoje, segundo dados do ONS, opera com 12,86% graças às chuvas que vem caindo no norte de MG principalmente. Ainda assim, no seu total, a Bacia do Velho Chico tem em torno de 20% de sua capacidade total. A mídia ouviu especialistas nessa questão e.... Gente, mentira. A mídia continua calada pois se trata do Nordeste, né?

Fonte: sertanianews.com.br
Aí a gente pensa (nem todo mundo): Sofremos há tanto tempo com a seca e temos alguns programas do governo que são interessantes para ajudar as pessoas desse tão sofrido sertão de nosso brazilzão. A transposição do Velho Chico está aí chegando sorrateiro e já tem mais de 80% de seu projeto concluído e fará uma redistribuição das águas do rio, chegando em locais que antes não chegava. Inclusive vai deixar de chegar em lugares que antes chegava. Inclusive (2) secando alguns rios perenes e deixando de haver alguns intermitentes. Inclusive (3) vão fazer o milagre da multiplicação das águas. Não enchem um reservatório, mas vai ter água para correr o sertão inteiro. Senta lá, Cláudia.
Água para o povo! Brincadeira... é para a agropecuária mesmo.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Gênios incontestáveis, homens desprezíveis

Racistas, machistas, misóginos, homofóbicos, pedófilos... Qualquer um desses conceitos já seria o suficiente para que uma pessoa passasse a figurar na lista de desafetos de muita gente. Mas há um pequeno porém: essa mesma pessoa possui uma obra inquestionável em sua área de atuação. E agora?

David Bowie influenciou grandes astros da música internacional, tem uma vasta obra com elementos que fez a crítica enxergá-lo como o precursor de um rock glamourizado, além de sua inclinação ao apoio à comunidade LGBT durante a década de 70. Porém, tentou ganhar fama em cima de uma suposta bissexualidade com o intuito de ser admirado pelo espírito transgressor. Contraditoriamente, confessou simpatia por Hitler e pelo fascismo e foi fotografado em uma ocasião fazendo a saudação nazista.

Fernando Pessoa dispensa apresentações quanto à sua relevância na literatura. Porém, recentemente, veio à tona diversas declarações racistas e de apoio à escravidão, além de discursos de depreciação às mulheres.

Tim Maia era machista e homofóbico, assim como Che Guevara. Maurício de Souza, Nelson Rodrigues, Woody Allen, Charles Chaplin... todos figuras incontestáveis, porém enquanto seres humanos palpáveis...

Será que é válido desconsiderar a obra de um determinado artista em detrimento de sua vida pessoal? É preciso enxergar que, em muitos aspectos, estiveram à frente do seu tempo, porém, em outros, foram apenas mais um entre todos aqueles que viviam a sociedade na época. Nada justifica os erros, porém e seus méritos? Somos condicionados a exaltar os defeitos e ignorar as qualidades, um ponto fora da curva é o suficiente para levar alguém do céu ao inferno em questão de instantes, mas será que esse é o modo correto de se avaliar sua real importância para o que foram considerados precursores?

Fonte: duda-videostore.blogspot.com


É como se tivéssemos um diamante coberto de poeira. Seu brilho é ofuscado, mas o seu valor não se altera. Isso significa que estou defendendo indivíduos que cometeram ações negativas ou grupos privilegiados e opressores da nossa sociedade? Óbvio que não. Mas é necessário saber diferenciar a obra do artista. Sabemos que muito do que se escreve, do que se faz enquanto expressão artística, é fruto da própria vivência pessoal. Porém não é, especificamente, a vida pessoal. Peguemos o caso específico de Chaplin. Toda a genialidade de um artista à frente do seu tempo que foi capaz de, durante um período delicado de conflito mundial, criticar abertamente o regime ditatorial adotado na Alemanha nazista e na Itália fascista. Mas ele foi um machista pedófilo. Chaplin produziu o fantástico “Tempos Modernos”, em plena ascensão de um feroz capitalismo industrial explorando toda a massa proletariada sendo, posteriormente, praticamente escorraçado dos Estados Unidos acusado de práticas comunistas. Mas, foda-se, ele foi um machista pedófilo. Até hoje, o cinema-mudo é admirado e invejado pela sua singularidade em transmitir, através da linguagem corporal, sentimentos, ideias, sentidos... Mas eu já disse que ele foi um machista pedófilo?

Maurício de Souza e seus quadrinhos fizeram parte da infância de várias gerações no Brasil. Diversos valores sobre família, amizade, companheirismo, cuidado com o meio ambiente, dentre tantas outras questões. Mas, além de Jeremias, personagem quase que figurativo com seu bonezinho vermelho, alguém consegue lembrar de outro menino ou menina negra? Apesar de não ser negro, Cascão é o que mais se aproxima disso por ser o único de cabelo crespo. E adivinhem quem na história é o personagem sujo e sempre submisso às ideias mirabolantes de seu amigo? Aliás, sua namorada, Maria Cascuda, em algumas histórias também aparece como quem não toma banho. Nem preciso dizer sobre a textura do cabelo dela, não é? Mais uma dica: pesquisem sobre o personagem Nico Demo, o “politicamente incorreto” dos quadrinhos de Maurício de Souza.

Uma mancha enorme em seus currículos, é verdade, mas não deixaram de serem gênios no que se propuseram a fazer para o seu grande público. Seres perfeitos não existem, até gênios têm suas ressalvas em sua vida pregressa. O legado que deixaram é incontestável... ou será preciso rever a importância que tiveram na história?