segunda-feira, 12 de novembro de 2007

"A emportança do bon portugêz"

Antes que me recriminem por ter escrito o título desta entrega num português, um pouquinho, errado (Pouquinho? Isso é praticamente um genocídio!!!), quero deixar claro que foi proposital. Pois, de qual outro modo eu poderia chamar atenção para um assunto tão relevante? Deixa eu começar a história dessa entrega para que possam entender melhor o porque da "Importância do bom português"...

Estava eu retornando de uma entrega no interior de
São Paulo e resolvi dar uma esticadinha na capital antes de voltar à boa terra. No caminho, como a fome estava batendo forte, dei uma paradinha num restaurante de beira de estrada. Deixei e lado as regras de higiene e os conselhos dados pelo Dr. Bactéria e adentrei naquele xexelento, digo, sórdido recinto. Veio me atender uma simpática senhora, aparentando uns 50 e poucos anos (ela jurou que tinha 40 e poucos...), com alguns dentes faltando, outros prestes a seguir o mesmo rumo e alguns raros guerreiros que teimavam em se manterem firmes, mesmo com aquele bafo de chaminé me desejando "Boa Tarde". Bem, isso me fez entender o porque das indústrias de cigarro continuarem a todo vapor (com a licença do trocadilho)...

Pois então, solicitei o cardápio e me vi defronte a uma língua quase que indecifrável! Pensei, primeiro, que fosse um português arcaico, mas, logo depois, tive quase certeza que se tratava de latim! Era "bifi de figido", "bifi acembolado", "bode asado", "pexe" e, para acompanhamento, "fejão", "arrois" e salada (também, se tivessem errado esse nome, juro que teria saído de lá com fome...). Acabei pedindo um galeto e torci para que a comida não fosse tão ruim quanto o português.

Terminad
a a refeição, ainda pensei em sugerir algumas mudanças no cardápio, só que logo imaginei todo o trabalho que teriam de confeccionar novos, já que, apesar daquela língua hieroglífica, as pessoas estavam lá para comerem e não estudarem gramática. O fato curioso ocorreu quando saí do restaurante. Tinha acabado de chegar um carro, tipo furgão, com uns 3 mal encarados saindo dele. Até aí, nada mal... Mas o que me deixou com a pulga atrás da orelha, foi o que tinha escrito na lateral do carro: "Impório Santa Maria Ltda.". Bem, até onde eu saiba, "impório" se escreve "empório", que, segundo o dicionário KingHost, significa: "Centro de comércio internacional; praça comercial importante. / Nome que adotam algumas casas comerciais; armazém, mercado." Para quem me conhece, sabe que sou um pouco chato em relação a português e acabo por corrigir as pessoas. Independente dos burucutus que ali estavam, fui, cautelosamente, com aquele ar de intelectual falar sobre o tal erro... Resultado: um olho roxo, nariz dolorido, um galo na testa e um tantinho de terra na roupa... Caramba - pensei - imagine se eu viesse a falar algo no restaurante e seguissem a mesma reação? O mínimo que eu teria seriam umas 3 costelas quebradas...

Meio desnorteado ainda das pancadas, me pus a refletir sobre um texto que li de Sérgio Nogueira outro dia desses. Nesse texto, ele falava sobre os erros de grafia nas palavras que não temos costume de escrever. Realmente existe uma certa dificuldade, da população em geral, sobre essas palavras, entretanto, e quanto
às palavras que estão em constante presença no nosso vocabulário e, mesmo assim, são escritas de forma errada? E falo isso desconsiderando os vícios da internet! Aqueles "pq", "c", "cm", "hein", "blz", "fmz", "tb" etc. Em relação a esse "internetês", nem recrimino, pois, como disse um historiador chamado Mário Giordani, "O que existe de estável na palavra, o que corresponde à idéia, e não à função, não é a simples união de consoantes e vogais, mas sim um grupo abstrato de consoantes." Entretanto, somos bombardeados de todos os lados com textos escritos tanto por jovens em idade escolar, quanto por adultos (inclusive, pasmem, estudantes universitários e profissionais formados como professores!!!) escrevendo verdadeiras atrocidades que me fazem pensar: "AONDE VAI CHEGAR A EDUCAÇÃO DESTE PAÍS?"

Mas então, acabei descobrindo, depois, que o furgão da "Impório Santa Maria Ltda." era um disfarce para um roubo que seria cometido, mas que foi impedido graças a algum esperto policial que não havia faltado àquela aula de gramática e desconfiou da grafia errada.


Cheguei em minha casa um tanto triste com a situação deste país, ainda dolorido dos sarrafões que levei do cara do "Impório", mas reflexivo em relação a eu ser um caminhoneiro pretensioso e esperançoso em fazer a minha parte para ajudar na educação deste país, pois sei que não estarei sozinho nessa caminhada... ou melhor, com o caminhão na estrada...


Traduções... ou suas tentativas:
- "bifi de figido" = frígido? fingido?
- "bifi acembolado" = seria aquela carne do boi (acém) feita em forma de bola?
- "bode asado" = um bode dotado de asas!!!
- "pexe" = ahn?
- "fejão" = esse eu sei
- "arrois" = significa arreios em francês... mas quem comeria arreios? E como podem não falar direito o português mas se arriscam no francês? Coisas do meu Brasil...
- "salada" = salada!!!