sábado, 22 de dezembro de 2007

Para não falar do Natal

O Caminhão de Idéias, depois de algum tempo longe das estradas, retornou para fazer uma nova entrega. Bem, mas, na verdade, não é exatamente da entrega que eu falarei. Também não será sobre o Natal, apesar da sua proximidade, afinal, uma festa que simbolizava um momento de união e carinho da família tornou-se, há muito tempo (ou sempre foi?), um preposto para o capitalismo extorquir mais um pouquinho, as crianças descobrirem que, independente da sua educação, quem tem mais dinheiro, Papai Noel dá um presente melhor, e a Globo fazer um amigo secreto para um monte de babac... (ops!) personalidades presentearem uns aos outros, enquanto tem gente querendo uma lata de leite de "presente" para fazer um mingau para seu filho.

Se bem que seria legal falar algumas curiosidades de Natal, mas não quero entrar nessa questão. O porque da roupa do Papai Noel ser vermelha tem alguma relação com o capitalismo? Não sei! E Santa Claus se traduzir Papai Noel? Também não faço idéia... E o que representaria um senhor de barba branca, fisionomia européia, aquela farta barriga, independente de onde estiver no mundo? How, how, how... Ah, ainda melhor, que tal procurar saber o que a Coca-Cola tem haver com o nosso bom velhinho???

Já que não falarei do Natal, vou relatar algo que ocorreu comigo hoje. No meu momento de folga, caminhão estacionado, roupa de trabalho guardada na gaveta e as boas e velhas sandálias de couro nos pés. Mesmo sem companhia, fui à Ponta do Humaitá (para mim, o melhor pôr-do-sol que já vi) para curtir o enamorado encontro entre o Sol e o Mar. Aquele astro-mor pronto para mergulhar no calmo tapete azul e dar lugar à plenitude da mãe Lua no céu, e eu lá de espectador, vibrando por dentro ao poder presenciar um dos fenômenos mais belos da natureza. Olhava para os lados e via cada vez mais gente chegando e, bem ao meu lado, param 5 pessoas da mesma família (ô povo que fala alto...), cada um com um acarajé na mão e as duas crianças com aquelas garrafinhas de refrigerante. Nossa! Que Lindo! Momento família!!! Todos reunidos, felizes, sorrindo, brincando e... comendo. E, como numa cena de filme hollywoodiano, aquela senhora, a matriarca da família, do alto de seus 30 e tantos anos, ao final da degustação de estimada iguaria, amassa o papel, como fazemos aquela famosa bolinha em sala de aula para jogarmos no coleguinha do outro lado da sala (eu? fazendo isso? aoooonde!!!), e, de costas, como um astro do basquete norte-americano, nos 2 segundos finais do último jogo do campeonato, arremessa, com o prazer e louvor que só ela sentiu, às pedras que logo abaixo encontravam-se. Juro que vi tudo em câmera lenta! Que exemplo maravilhoso que acabara de ser dado aos seus filhos! Uma mãe, o principal espelho que as crianças têm dentro de casa, comete, na frente delas, um ato como esse. Há menos de 20 metros adiante, uma lata de lixo estava a espera de não ser considerada um simples adereço de porta de restaurante. Como se não bastasse, quando me viu tirando foto do papel jogado à natureza, ainda me faz cara feia...

Pensou que acabou por aí? Quando estavam indo embora, eu pensei que ela tinha aprendido a lição. Os filhos haviam deixado suas respectivas garrafinhas de refrigerante na balaustrada. Uma ainda pela metade e a outra, já caída de lado, vazia. A tampinha da primeira estava ao lado dessa. Então, levantaram-se todos e, ao perceber que esquecera algo, a matriarca retorna, pega a garrafa que estava pela metade, a tampa que estava junto à vazia, encaixa-a e... vai embora!!! #@%&#$¢§&%#$!!!!!!!!!!!!!! Alguns segundos depois, a garrafa que ali fora abandonada, como uma criança numa noite de Natal sem seus pais, sem o carinho e o aconchego de um lar, corre para se juntar ao papel outrora jogado às pedras.





O pôr-do-sol eu perdi...