quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Sobre ser forte

"Pedro caminhava solitário pelo parque naquele fim de tarde. Envolto em seus pensamentos, trazia em uma das mãos uma antiga foto de seus pais e na outra um diário em que, por muitos anos, escrevera suas poesias que quase ninguém lia. Sentou-se num banco de madeira de frente para onde crianças corriam e brincavam com seus pais. Pedro, do alto de seus quase 30 anos, abriu o diário em uma de suas velhas poesias e leu com a voz embargada um trecho: 'Estrelas são almas eternas / Despedem-se da sua luz quando em vida / Transformam-se em brilho / Brincam de guiar nosso caminho / Mas trazem consigo o pesar da despedida'. Lembrou que não era bom com as palavras, ensaiou um sorriso, colocou a foto de seus pais marcando aquela página, fechou o diário e chorou".

Somos bilhões de Pedros no mundo. No preâmbulo do manual de qualquer macho moderno, há a mesma frase escrita há centenas de anos: "Homem que é homem não chora". Mas quando fora determinado que é sinônimo de ser forte não derramar lágrimas?

"Malditos ninjas cortadores de cebolas, mal posso ver seus movimentos" - já diria aquele seu amigo que chora mas tem vergonha de assumir (rsrs). Em uma sociedade ainda dominada pelo machismo, saber a hora certa de admitir que os seus canais lacrimais existem e trabalham, ainda que não com tanta frequência, é alentador. Criamos dentro de nós um monstro chamado alter ego que nos faz acreditar na nossa incrível capacidade de estarmos acima de qualquer problema. Ledo engano. Confiar na sua capacidade de resolver as questoes que envolvem sentimentos de perda é bom, mas jamais devemos descartar algo de suma importância: não estamos sozinhos no mundo! Já parou para pensar que do seu lado pode ter alguém precisando de você? Ou você precisando da pessoa? Fraqueza? Não! Estamos sendo fracos se pensarmos em sermos fortes o tempo todo. Não há como ser. Em algum momento haverá a necessidade de externar as afliçoes e colocar pra fora suas dores. Cada um tem seu jeito. Algumas pessoas saem e enchem a cara, outras se entocam na casa da(o) amiga(o), outras viajam para espairecer, outras escrevem...


quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O falso convívio ou Relações Facebookianas

"Fulano mudou seu status de solteiro para namorando". De repente aquele alvoroço, uma chuva de curtidas, comentários, mensagens inbox, ligações, chamadas no whatsapp... Praticamente uma mobilização nacional com passeatas, faixas, apitaços e até a chamada de Sérgio Chapelin dizendo "no Globo Repórter de hoje, o início do namoro de um amigo no facebook. De onde ela surgiu? Porque a mudança de status em tão pouco tempo? Quando será apresentada aos amigos?"

Por que tanta importância é dada a algo cujo interesse só se torna objetivo à pessoa que está dentro da relação? Qual o motivo da subjetividade das outras, o interesse na vida íntima, muitas vezes de pessoas com quem não se tem um mínimo de convívio, mas a necessidade de se saber sobre a vida alheia se torna algo tão excitante? E as suposições se tornam constantes. É Fulaninha do trabalho? Siclaninha da faculdade? Beltraninha do colégio? Voltou para a ex? Teeeeeeeeeempo!!!

Qual a real função das redes sociais? Aproximas os amigos, manter contato, saber sobre o que acontece na vida do outro... opa! Chegamos no ponto em questão. Postamos o que queremos. Mesmo que seja uma falsa notícia de namoro [;)]. Mais que divulgas sobre sua vida, as redes sociais viraram um livro de visitas e cada postagem é uma nova sessão a ser visitada.Quem nunca se frustrou com a ausência de curtidas/comentários em uma nova foto, vídeo, frase de CFA ou qualquer nova postagem? Carência! A mesma solução de aproximação que as redes sociais nos concebem, tornou-se motivo de isolamento. O novo ópio do povo mede quão legal você é, quão interessante você se tornou, pela quantidade de manifestações de apreço à sua vida... mas não é a vida real! "Eu quero ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar [...]". Quem nessa vida de tem 1000 amigos? 500? 300? 100? 10!!! Contentamo-nos com tão pouco... Basta entrarmos em um chat com nossos amigos que a sensação de satisfação pessoal nos atinge como um falso orgasmo. É um sexo virtual, um prazer saciado com os olhos! Não há sorrisos, mãos, abraços... relações subjetivas!

As redes sociais se tornaram fonte quase que única de notícias. Pergunte-se três informações que saíram na capa do jornal essa semana?! Agora relembre cinco publicações que amigos fizeram. O que é mais fácil saber? Essa questão ultrapassou a premissa do interesse para se tornar um problema de ordem social! Claro que há vida inteligente na internet. Ainda nos deparamos com notas interessantes, artigos, divagações, declarações, informes úteis para a nossa melhor compreensão do cotidiano. Mas... quantas curtidas estes merecem? Melhor, quantos leitores estes tiveram? Ah, mas o texto é grande... Ok! Você se formou lendo as tirinhas da última página dos gibis da Turma da Mônica... desculpa aí!

A vida não precisa ser levada o tempo todo a sério. Rir de piadas, compartilhar bobagens, escrever loucuras, tudo é muito bem vindo. mas a sociedade necessita de muito mais que isso. Escutar de um manifestante de junho que foi às ruas só para tirar foto por modismo é revoltante. Viver é muito mais do que isso, existe vida pós-facebook! Não há rede social melhor do que um barzinho, uma praia ou casa de amigos. O mundo virtual traz facilidades enormes, porém, entre elas, a de se afastar do mundo real, subjetivando-se a vida em detrimento ao que a tela de computador nos proporciona.