terça-feira, 30 de novembro de 2010

Qual a grande discussão do momento? Eleição da ex-militante da época da ditadura e futura presidente, além da manutenção do antigo partido de esquerda (hoje sem muita noção de direção)? Coréia do Norte reavivando um antigo imbróglio com o seu homônimo do sul em detrimento ao empenho global em eliminar as zonas de conflito nos embates pelo poder? Retorno da economia estadunidense pós-crise que não vivia números negativos tão significativos desde o crash da Bolsa de Nova York na crise de 1929? Não! Absolutamente nada disso tem estourado nas manchetes dos jornais tanto quanto a inesperada e insuperável presença midiática do ícone pop cultural conhecido e idolatrado pelo mundo inteiro: Beyonce (quem?).

Desta vez ela aparece sem maquiagem, debulhando em lágrimas como um ser humano normal (sic). Isso mesmo! Não queremos saber das centenas de milhares de mulheres que todos os dias choram a fome dos seu filhos, a morte de seus entes e o desmantelamento das suas famílias por causa do tráfico. Para que se importar com as lágrimas de uma criança vivendo as noites frias e angustiantes das grandes metrópoles enquanto, do alto de seu pedestal, as lágrimas da "Single Lady" encharcam não somente sua face, mas o seu pobre vestido Versace pago pelo fanático e utópico amor de seus seguidores e adoradores?

"Porque Deus me deu essa vida?". Triste, muito triste escutar isso desta pobre mulher cujo faturamento anual gira em torno de 80 milhões de dólares, enquanto um pai de família sustenta mulher e 5 filhos com um salário mínimo que mal paga o leite que alimenta a sua prole. Essa vida de puro sofrimento dela... a casinha comprada pela bagatela de 13 milhões de dólares ( a anterior custou somente 10 milhões) é de tirar o sono de qualquer um...

Mas para quem acha que ela não aprendeu com esta sua sina de moça sofredora, enganou-se! Hoje ela dá intenso valor quando ganha seis grammys numa noite e não questiona mais essa dádiva divina. Claro que para a população vê-la receber tanta agraciação é muito mais proveitoso do que chegar ao fim do mês e agradecer a Deus que o bolsa-família finalmente apareceu sem ter sido descontado um centavo sequer da sua conta.

Enquanto continuamos a idolatrar e, praticamente, santificar entidades meteóricas que permanecerão na mídia por 5, 10 ou 15 anos, vivemos 80 anos na eterna batalha para conquistar um pedaço de terra e dar um sentido de dignidade à nossa vida e a de nossos descendentes. Mas quem será o próximo pop-star a derramar suas lágrimas para chorarmos juntos esquecendo os infortúnios que nos acometem?