quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Sobre ser forte

"Pedro caminhava solitário pelo parque naquele fim de tarde. Envolto em seus pensamentos, trazia em uma das mãos uma antiga foto de seus pais e na outra um diário em que, por muitos anos, escrevera suas poesias que quase ninguém lia. Sentou-se num banco de madeira de frente para onde crianças corriam e brincavam com seus pais. Pedro, do alto de seus quase 30 anos, abriu o diário em uma de suas velhas poesias e leu com a voz embargada um trecho: 'Estrelas são almas eternas / Despedem-se da sua luz quando em vida / Transformam-se em brilho / Brincam de guiar nosso caminho / Mas trazem consigo o pesar da despedida'. Lembrou que não era bom com as palavras, ensaiou um sorriso, colocou a foto de seus pais marcando aquela página, fechou o diário e chorou".

Somos bilhões de Pedros no mundo. No preâmbulo do manual de qualquer macho moderno, há a mesma frase escrita há centenas de anos: "Homem que é homem não chora". Mas quando fora determinado que é sinônimo de ser forte não derramar lágrimas?

"Malditos ninjas cortadores de cebolas, mal posso ver seus movimentos" - já diria aquele seu amigo que chora mas tem vergonha de assumir (rsrs). Em uma sociedade ainda dominada pelo machismo, saber a hora certa de admitir que os seus canais lacrimais existem e trabalham, ainda que não com tanta frequência, é alentador. Criamos dentro de nós um monstro chamado alter ego que nos faz acreditar na nossa incrível capacidade de estarmos acima de qualquer problema. Ledo engano. Confiar na sua capacidade de resolver as questoes que envolvem sentimentos de perda é bom, mas jamais devemos descartar algo de suma importância: não estamos sozinhos no mundo! Já parou para pensar que do seu lado pode ter alguém precisando de você? Ou você precisando da pessoa? Fraqueza? Não! Estamos sendo fracos se pensarmos em sermos fortes o tempo todo. Não há como ser. Em algum momento haverá a necessidade de externar as afliçoes e colocar pra fora suas dores. Cada um tem seu jeito. Algumas pessoas saem e enchem a cara, outras se entocam na casa da(o) amiga(o), outras viajam para espairecer, outras escrevem...